quinta-feira, 14 de agosto de 2008

A arte de não fazer nada

Na faculdade, aprendemos uma profissão ou adquirimos conhecimentos que serão utilizados em algum tipo de trabalho. A maioria dos alunos de graduação tem como maior preocupação o ingresso no mercado de trabalho, que se dará mais cedo ou mais tarde. Passada esta etapa da vida, entra-se em um ciclo onde a aquisição dos bens materiais e/ou a independência financeira assumem um papel fundamental. Quem opta por não fazer uma faculdade, já entra direto neste ponto.
Mas o problema é o seguinte: quem aprendeu na faculdade a arte de não fazer nada ou a aproveitar seu tempo livre? Acho que ninguém pensa nisso. Cada vez mais surgem programas de “qualidade de vida” direcionados a pessoas que na verdade nem sabem o que é isso e já estão passando da hora de começar. Até cursos logo antes da aposentadoria existem com o objetivo de ensinar as pessoas a viver sem trabalhar...
A tendência natural é a pessoa trabalhar feito um escravo pensando que depois da aposentadoria vai “aproveitar” a vida. Aposentadoria, a partir de agora, será cada vez mais tardia – foi-se o tempo em que pessoas com quarenta e poucos anos se aposentavam. As regras de aposentadoria nos setores público e privado vêm mudando e vão ter de mudar muito mais, pois a situação dos fundos de previdência em todo o mundo é insustentável. A expectativa de vida é pouco maior do que a idade de aposentadoria. Esse papo todo é para chegar à conclusão de que a vida tem de ser aproveitada a partir de hoje e até o fim e que essa história de ficar esperando a aposentadoria é uma loucura.
A primeira providência é trabalhar em algo do que se gosta. Já que tanto tempo vai ser gasto com o trabalho, que não seja um sofrimento. Mesmo que o ganho seja melhor, acho que vale a pena trocar um trabalho desagradável por outro aprazível.
Resolvido isto, passa-se a administrar o tempo de forma a viabilizar a arte de não fazer nada ou coisas não rentáveis. Dentro dos valores da nossa sociedade ocidental, onde “time is money”, isso não é nada fácil.
Deve haver um meio termo. Meus amigos que não precisam de trabalhar vivem dramas existenciais tão interessantes, com problemas de auto-estima e outros não identificados, que nem lamento não ter este privilégio.
Escrevi isto tudo para dizer que não domino a arte de não fazer nada e coisas não rentáveis e que estou com sérias intenções de começar a aprender. Enquanto é tempo...

6 comentários:

Rodrigo Carreiro disse...

Essa arte também é não é fácil, meu caro. Mas entendo seu ponto de vista, e até aprecio e comungo da mesma idéia. Mesmo se aposetando e com tempo livre, você invariavelmente terá doenças crônicas ou não terá dinheiro para se divertir. A não ser que, ao longo da vida, você desenvolva habilidade em se divertir com pouco (o que é bom): xadrez, papo na esquina, programas de TV aberta, palavras cruzadas...

dani disse...

obrigada pelo comentário la no meu blog, vou tomar como um elogio. =)

sobre a arte de não fazer nada vou tentar tb te passar alguns conhecimentos próprios básicos (la no francophonisation), mas uma coisa é importante lembrar... nesse campo o que é de experiência própria é difícil ensinar, tem-se mesmo é que fazer cada um a sua. saca?

te desejo sorte e sucesso nessa empreitada.

Mwho disse...

Rodrigo,
Concordo com você!
O segredo é não precisar de muitos recursos para se divertir...

Mwho disse...

Dani,
Acho que muita coisa legal escorre pelos dedos...
Em outras palavras, a gente não consegue enxergar coisas simples que estão em volta. Não precisamos de nada muito complicado, mas, sim, de sensibilidade para achá-las.
Aprender a não fazer nada é empreitada para toda a vida (curtir o ócio sem culpa)!

Sunflower disse...

HEY, o que seria da infância sem nós (futuras) velhinhas loucas, cheia de gatos que nunca devolvem as bolas?

Mwho disse...

Sun,
Concordo.
Elas realmente dão mais emoção à infância!