sábado, 30 de agosto de 2008

O simpático do parque

O Parque da Cidade, em Brasília, é um parque urbano enorme, onde só o seu circuito interno de corrida tem 10 km de extensão. Nesta época do ano, em que até um camelo apreendido de um circo teve desidratação, os vendedores de água fazem a festa!
Pois lá no parque existe uma figura folclórica que é um vendedor de água, baixinho, de óculos, que usa um avental branquinho e cumprimenta todo mundo que passa com um sorriso enorme no rosto. Há uma lenda que diz que nenhum bebedouro nas proximidades funciona por sua causa...
Sempre que me aproximo do seu ponto correndo, uns 100 metros antes, começo a pensar se devo retribuir o seu cumprimento ou não, já que hipocrisia e a desonestidade incomodam. Se ele estraga os bebedouros e ainda vem dar aquele "Bom dia!" sorridente só para me sensibilizar e empurrar uma garrafinha de água, não mereceria o meu cumprimento...
Mas, uns 10 metros antes, sempre decido retribuir seu cumprimento, pois in dubio pro reo!

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Minha primeira medalha

Sempre adorei esportes. Por pouco não o fiz por profissão. Mas sou o verdadeiro exemplo de que o que vale é competir.
Na minha primeira competição (natação), dei o meu máximo e, infelizmente, cheguei em último lugar. Meio triste, recebi uma medalha de participação. Devia ter uns 11 anos. Coloquei a medalha no pescoço e não a tirei por nada. Morava com meus avós. Na hora do jantar, minha avó percebeu o brilho no meu pescoço e pude contar que ganhara a medalha - nem precisei dizer em que lugar tinha chegado...
Guardei com todo o carinho o prêmio por muitos anos. Claro que ganhei outras medalhas em classificações melhores. Pratiquei vários esportes e até que me saí bem. Ganhei, perdi, tive muitas emoções...
Mas, na verdade, a minha medalha favorita era aquela primeira. Sinto falta da minha memória, extraviada num furto em uma das várias mudanças que fiz...
Hoje, tenho o maior respeito pelos atletas que participam das competições, inclusive os últimos colocados...

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

I Fórum Internacional à Distância sobre Extermínio Não-Farmacológico de Baratas

Mwho: Creio que a forma mais ecológica de se matar uma barata seja uma lenta injeção de água por meio de uma seringa descartável!

Samantha: Argh! Que nojo!

Rodrigo: Que cara mau!

Ivich: Acho que isso seria tortura! Melhor selecionar a barata e teclar "del"!

Sun: Sugiro uma forma mais perfumada: aplicação de xampu!

Mwho: Como assim? Segurando a barata? Mas e o condicionador?

Franka: Se fossem mosquitos de luz, eu resolveria facilmente!

Dani: Baratas? Por que não mudar o foco para esquilos?

Careca: Melhor convocar o meu cachorro Max para acabar com as baratas e os esquilos de uma só vez!

Bono: Que frescura! É só dar uma pisada e pronto!

Mwho: Sempre detestei trabalho em grupo! Estou confuso! Tenho nojo de baratas e não vou segurar nenhuma para passar xampu, muito menos condicionador! Esse tal de Max vai morder todo mundo e também não quero ficar com fama de torturador sádico! Clicar na barata com o mouse deve ser super difícil! Proponho uma padronização: chinelada!

Obs.: Esse diálogo é mera ficção. Qualquer semelhança com a realidade talvez seja coincidência. Caso algum dos citados quiser mudar sua participação ou ser excluído, é só solicitar pelos comentários e aceitar os pedidos de desculpas!

terça-feira, 26 de agosto de 2008

O dia em que o Zé Artur ficou meu amigo

O Zé Artur era o terror da escola. Era mau, maior, mais forte e mais gordo. Jogava todo mundo nas latas de lixo. Não gostava de estudar e era o típico marginalizado que todos evitavam até olhar...
Eu era um dos menores, estudioso, usava óculos. Passava por uma fase rebelde só em casa, ainda resíduo da separação dos meus pais, diziam os entendidos.
Pois fui parar no psicólogo. Era uma clínica bem chata, onde tentaram me ensinar técnicas de relaxamento e alguma coisa além disso de que não consigo me lembrar.
A grande lembrança é do encontro que tive com o Zé Artur. Quando ele me viu na clínica, inicialmente, pensei em fugir, mas o seu olhar foi tão terno e solidário, que não pude evitá-lo. Ele se aproximou, parecendo muito feliz, se identificando com o bom aluno comportado, que, como ele, também freqüentava aquele estabelecimento corretivo, me cumprimentou sinceramente e me abraçou. Fiquei até comovido. O terror da escola me abraçando como um amigo...
E foi aí que consegui escapar definitivamente da lata de lixo!
Pelo menos para alguma coisa valeram as idas à clínica psicológica...

Tempo

Na infância, o Tempo é nosso amigo.
É tão generoso, que até sobra.
Na adolescência, fica manso.
Então nós o controlamos.
Somos os senhores do Tempo.
Somos eternos!
Aos quarenta, um pouco mais,
Um pouco menos, para alguns homens,
Principalmente os céticos e muito pragmáticos,
O Tempo se rebela.
E, caviloso, faz o homem pensar
Que ele, o Tempo, esfarela.
Mas, na verdade, o Tempo,
Para esse tipo de homem,
Esfarela o amor, a amizade, a esperança,
O Tempo esfarela o próprio homem.

(Autora anônima)

sábado, 23 de agosto de 2008

Brincadeiras de criança

Nos sábados à tarde, coordeno um grupo de alunos de vários cursos de graduação em um projeto de extensão universitária em uma comunidade carente da periferia de Brasília. Hoje, resolvi observar as brincadeiras das crianças.
Fiquei sentado por alguns minutos num banco de madeira numa rua cheia de lixo, onde as crianças brincavam tranqüilamente. Uma menina gordinha de 7 anos se aproximou segurando um teclado estragado que acabara de recolher de um monte de lixo. Perguntei se ela sabia ler e ela respondeu que não muito. Resolvi jogar um pouco com ela. Falava uma letra e pedia que dissesse uma palavra que começasse com ela e depois me mostrasse no teclado. Brincamos animadamente por uns 10 minutos.
Logo em seguida, passei por duas meninas tentando jogar vôlei com uma bola de futebol murcha, sendo a rede um pedaço de madeira. Pedi licença e ensinei a técnica do saque, do toque e da manchete, e ainda joguei um pouquinho.
Ainda na rua, vi três garotinhos de no máximo 8 anos brincando em um monte de madeiras velhas. Fingiam que era uma moto e disputavam a direção. Estava boa a brincadeira - só pedi que jogassem fora uma madeira cheia de pregos. Eles não reclamaram e aproveitaram para recolher uma caixa de som velha do monte de lixo que colocaram em cima da "moto".
Mais tarde, vi dois meninos bem pequenos jogando pingue-pongue sobre uma tábua. As raquetes eram pedaços de madeira e a bola era simplesmente a bolinha de um desodorante roll-on. Não resisti e pedi para jogar. Desisti na segunda tentativa, pois a bola não quicava direito e a mesa amortecia demais. Mas eles continuaram o jogo.
Assim, enquanto orientava os alunos, aproveitei a minha tarde para entender na prática como as crianças carentes se divertem de forma tão ingênua e criativa, enquanto muitas crianças ricas de hoje esfolam seus dedos nos teclados e mouses dos computadores...

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Explosão de baratas

A infância proporciona momentos únicos!
Ainda me lembro da época em que comprava seringas na drogaria perto da minha casa para enchê-las com água e ir à caça de baratas!
Isso mesmo que você entendeu!
Devia ter uns 10 anos? Não podia ser mais do que isso... Enchia as seringas com água da torneira e abria as tampas dos bueiros para que as baratas saíssem correndo desesperadas do monstro que as perseguia com uma arma na mão...
Quando conseguia prender a barata com a agulha (não encostava nela!), injetava lentamente o líquido até ouvir o "ploft" inesquecível: o som da barata estourando!
Antes que você pense a respeito, já faz muito tempo que parei com essa caçada e, para falar a verdade, detesto ter que matar uma barata (tenho até nojo daquela gosma branca e pegajosa), mas, com esse histórico, acho que é uma obrigação moral assumir esta tarefa pelo menos na minha casa...

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

O primeiro dia da instrutora de musculação

Detesto academia de musculação, mas como remédio controlado que sou obrigado a tomar, dou uma passadinha por lá duas ou três vezes por semana. Claro que minha permanência é a mais breve possível e para isso encurto intervalos, sofro para acelerar tudo e, principalmente, fujo dos instrutores como o diabo da cruz...
Quando os instrutores começam a olhar muito, pode ter certeza que vão corrigir novamente alguma coisa, fazer uma devassa na sua ficha e, principalmente, propor uma nova série de exercícios que vai revolucionar o seu visual...
Ontem, estava eu pagando os meus pecados quando vi uma nova instrutora chegar ao ambiente. Meio deslocada, usando aquele uniforme padronizado que deixa os instrutores sarados e as instrutoras mais tímidas quase nuas, recebe a instrução detalhada e definitiva do colega de trabalho: "Você deve sair olhando os alunos e, quando vir algo inadequado, chega junto e corrige!". E aí, ela vira para o lado, com um sorriso meio amarelo, e obviamente olha para mim, pois era o primeiro na linha de tiro...
"- Oi! Hoje é o meu primeiro dia..."
Fiquei penalizado com a sinceridade dela. Em seu lugar, jamais iria confessar que estava começando. Iria omitir a informação. Mas achei a menina tão fragilizada que resolvi colaborar:
"- Oi! Seja bem-vinda! Se eu estiver fazendo algo errado, não faça cerimônia. Pode me corrigir!"
E ela realmente ficou olhando o meu exercício atentamente. Tive que fazer certinho, sem "roubar" ou acelerar demais... Demorou uma eternidade. Ao final, fez a pergunta fatal:
" - Posso ver a sua ficha?".
Nem precisa dizer que dei aquela enrolada:
" - Claro, mas já passou da hora de trocar a série. Preciso marcar na recepção..."
Ela ficou feliz com o primeiro aluno. Cumpriu o seu papel!
E eu escapei por um triz! Mal sabe ela que cumprimento todos os instrutores, mas jamais nenhum conseguiu conversar comigo por mais de 15 segundos!
E fui para casa feliz: fiz a boa ação do dia...

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Outro tipo a ser evitado

Ontem falei das pessoas que têm uma visão muito negativa da vida. Hoje vou falar de um tipo diferente, mas que também quero evitar: aquele cara que só fala dele, que quer a todo custo mostrar que vale mais do que sabe que vale...
Claro que quando a gente escreve algo assim se lembra de alguém especificamente, mas dá perfeitamente para generalizar...
Pois é o cara que quer mostrar o tempo todo que é melhor em tudo. O problema básico é a auto-estima baixa, mas esse tipo não abre a guarda facilmente. O comum é observá-lo contando vantagem, falando sobre suas realizações e atributos. Você até olha e não entende muito como o cara se acha tão bom, mas com o tempo, isso passa a incomodar. Incomoda porque você tem o seu equilíbrio, até uma noção da realidade, mas o cara do seu lado martelando o tempo todo aquela ladainha de que é mais rico, mais bonito, mais esperto, mais tudo... Você cansa do seu equilíbrio e passa a se achar mais pobre, mais feio, mais tolo...
Então, esse é outro tipo a ser evitado. A não ser que o cara enfrente uma psicoterapia, pois isso tudo é um tremendo mecanismo de defesa...
Concluindo, quero também ficar longe de quem se acha muito mais do que é...

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Olhar cômico

Olhar a vida sem sofrer
Uma questão de opção
Opção pelo sentir
Pela emoção, pelo prazer
E olhar independe da visão
Muitos provam isso
Pois sem nem enxergar
Conseguem muito ver
Ver a vida com olhar cômico
Diferente do olhar cego
Dos que vêem na vida
Uma passagem para a morte
Com grande sofrimento
E incapacidade de sorrir
Que fiquem longe de mim

Abaixo a energia negativa!

Toda segunda-feira é motivo para pensar em alguma coisa enquanto se espera a terça-feira... Hoje acordei pensando nas pessoas que têm a capacidade de irradiar energia negativa.
São pessoas que só conseguem ver o lado ruim da vida e não se contentam em guardar esses sentimentos, fazendo questão de tentar passá-los adiante.
Acho que é uma ótima idéia tentar deixar essas pessoas de lado. Dar o menor valor possível a elas. Geralmente, não têm muito a acrescentar. São aquelas pessoas que estão sempre reclamando de tudo, que deixam a gente pra baixo. Parece que não gostam de ver pessoas em volta de bem com a vida...
Que fiquem longe. Não vou gastar minha energia com elas. Que sejam felizes (coisa difícil, mesmo com saúde e muito dinheiro)!
Mas quero distância...
Quanto mais longe delas, melhor!

domingo, 17 de agosto de 2008

Buenos Aires (dicas de viagem)

Como prometi a alguns amigos, reuni algumas pequenas dicas para uma viagem a Buenos Aires. Gostei muito da cidade e acho que é uma excelente opção de turismo urbano. Comprei alguns guias de viagem, mas achei o da Folha de São Paulo o melhor.
Para a viagem, se quiser, leve apenas reais, que podem ser trocados no Banco de La Nación, que fica logo ao lado do salão de desembarque no aeroporto de Ezeiza (funciona 24 horas) - pode ter até uma pequena fila, mas a taxa de câmbio é uma das melhores da cidade e o dinheiro confiável. Eles não dão muito dinheiro trocado, mas em pouco tempo se consegue o suficiente comprando-se água e coisas pequenas em lojas de conveniência. Cuidado com o troco nos táxis - é comum problemas com notas falsas - ande com dinheiro trocado sempre.
O aeroporto é distante. Há guichês de táxi no aeroporto que cobram um valor fixo (cerca de 95 pesos para o centro). Do centro para o aeroporto, os rádio-táxis cobram cerca de 80 pesos.
Os cartões de crédito são aceitos em quase todos os lugares. Para compras, são raras as lojas que dão desconto para pagamentos em espécie. Em vários lugares, com produtos argentinos, pode-se solicitar o formulário Tax Free, que é preenchido na loja. Ao chegar ao aeroporto na saída, vá até um balcão da aduana que fica próximo ao check-in para carimbar o formulário. Pouco antes do embarque, apresente o formulário e tenha de volta o imposto pago na loja (até 21% do valor da compra) em espécie!
O Free Shop de Buenos Aires é muito bom e os preços também. Pode-se pagar em dinheiro local, dólares, reais e cartão de crédito.
Há bons hotéis no Centro e na Recoleta. Faço reservas sempre pela internet (www.booking.com). Funciona e as tarifas são ótimas!
A cidade é bastante segura no centro, à noite inclusive, mas não facilite! Ande com cópia do passaporte e não leve todos os cartões e dinheiro com você! Em uma semana rodando pela cidade, não me senti ameaçado nenhuma vez.
Os táxis são relativamente baratos, mas é comum alguns motoristas andarem um pouco mais do que o ideal. Assim, sempre que possível, vá a pé ou use o metrô, que é quase de graça, um pouquinho velho, mas funciona muito bem. Compre um mapa da cidade ou pegue um de graça em um quiosque de auxílio aos turistas - são muito úteis!
Vale a pena comprar roupas. Não adianta rodar muito atrás de preços melhores nas lojas de marca, pois não variam muito. A rua Florida e as galerias Pacífico resolvem. Na Avenida Córdoba, há outlets, mas não achei muita coisa interessante não. Quem gosta de couro, aí sim, vale a pena e tem muitas opções.
Sugestões de passeios: não perca a feira de antigüidades de San Telmo aos domingos. Saia a pé até a Casa Rosada, siga até o Congresso, pare no Café Tortoni (só para conhecer - chocolate quente com churros). Vá à Praça San Martin. Não deixe de visitar o cemitério da Recoleta (jazigo da família Duarte - Eva Perón!), rodeado por dezenas de restaurantes e bares legais! Para o lado de Palermo, o Jardim Botânico e o Jardim Japonês (que tem um ótimo restaurante no fundo!), que fica próximo ao Museu Malba (onde está o Abaporu, de Tarsila do Amaral), valem muito a pena. Se estiver disposto, a fim de agito, depois de 2 da manhã, o lugar é Palermo! Lugar imperdível e mais tranqüilo é Puerto Madero, com dezenas de bons restaurantes, principalmente à noite.
Mas o melhor é andar pelas ruas, longe da confusão da rua Florida, que parece o Paraguai! Algumas ruas são tão bonitas quanto as de Paris (foto)!
Em julho de 2008, cada 100 pesos valiam 60 reais. No final das contas, tudo era um pouco mais barato do que no Brasil!

sábado, 16 de agosto de 2008

ITP

O ITP é um índice que avalia o grau de desenvolvimento de um país baseado na presença do Topo Gigio em sua memória. Foi criado há alguns minutos (Índice Topo Gigio). Parte do princípio que, no final da década de 60, quanto maior a presença do ratinho no inconsciente coletivo, maior o grau de desenvolvimento social, econômico e emocional do povo em análise.
Pois foi assim que resolvi procurar sinais da presença do Topo Gigio na cultura argentina a partir de uma busca nos antiquários de San Telmo, Buenos Aires, onde existe também existe um feira muito famosa aos domingos.
Encontrei vários Topo Gigios, alguns bem grandes como o da foto. Gostei muito de um modelo menorzinho, mas o que estava em melhor estado de conservação infelizmente apresentava a orelha esquerda bastante roída...
A conclusão do estudo foi que a presença do Topo Gigio na memória argentina é significativa!
Ponto para los hermanos!

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Amor em Paris

Paula acaba de pedir a conta ao garçom. Jantava sozinha em um restaurante caro em Paris, na sua despedida da cidade. Como professora universitária, doutora em sociologia, nem precisava ter feito esse curso de especialização, mas para esquecer um pouco o final de um casamento de mais de dez anos, foi uma boa maneira de colocar os sentimentos em ordem. Depois de um mês em Paris, andando sempre sozinha pelas ruas, conseguira reencontrar sua paz interior.
Não poderia deixar de perceber o casal que jantava na mesa em frente. Mesmo porque parecia que o homem a estava observando. Como nem pensava em novos relacionamentos, procurou não corresponder aos olhares. Era um homem muito elegante, num terno de corte perfeito, e sua acompanhante, uma mulher loira, muito bonita, alguns anos mais nova, também muito bem vestida.
Notou que a mulher se levantou e saiu do restaurante. Passando em frente, pelo vidro, viu que trocou beijos com o homem. Imediatamente, o homem se levantou e sentou-se em uma cadeira na sua mesa.
- Não consegui parar de olhar para você. Gostaria muito de sair com você e minha esposa. Temos um acordo que, se um dia conhecesse alguém que me atraísse muito, sairíamos os três. Nunca traí a minha esposa...
A objetividade do homem a deixou perplexa. Entretanto, ele era realmente interessante...
- Este é o meu telefone. Aguardo desesperadamente a sua ligação.
Paula ficou sem palavras. Como era seu último dia em Paris, não resistiu e, no hotel, que ficava próximo dali, ligou...
- Alô!
- Sabia que você me ligaria! Meu escritório fica a dois quarteirões daquele restaurante. Aguardo sua visita agora... No meu cartão tem o endereço!
Paula andou até o endereço do cartão. Já anoitecia. Nunca tinha vivido nada semelhante. Seu coração batia acelerado. Confiou num estranho. Apenas um cartão. Entrou no edifício, um escritório de advocacia extremamente luxuoso... Tiveram uma conversa impressionante. Falaram sobre suas vidas por mais de três horas. Tudo nele a agradava.
- Olivier, não posso sair com vocês. É muito complicado para mim. E também não vou deixar que você traia a sua esposa.
- Fique mais alguns dias!
- Não posso. Tenho de voltar para o Brasil...
Despediram-se com uma sensação mútua de que algo ficava para trás. Trocaram um beijo apaixonado... Ao sair do edifício, rasgou o cartão e andou em direção ao seu destino...
Um ano depois, arrumando seus papéis, Paula encontra na conta do hotel de Paris o número do telefone de Olivier. Não resiste. Liga.
- Olivier?
- Paula! Não consegui parar de pensar em você por um só instante do último ano...
- Também pensei muito em você...
- Venha para Paris! Preciso de você...
- Mas não posso estragar seu casamento!
- Não se preocupe. Eu e Ellen nos separamos. Disse a ela que me apaixonei por alguém e que, mesmo sem saber seu telefone e endereço, não conseguiria nunca mais parar de pensar em você. Passei cada momento do último ano esperando você me ligar...
Paula está no avião. Pediu licença no trabalho. Nem sabe se volta. Alguma coisa a faz sentir que encontrou o seu verdadeiro amor...

Obs.: Isso aí foi uma tentativa de escrever um conto... Mostrei para uma pessoa que disse que estava formal, previsível e que os personagens não tinham conteúdo psicológico... Para não deletar tudo, resolvi postar... Quem sabe alguém gosta?

Queria uma fila maior!

Como tinha uma folga hoje pela manhã, resolvi comparecer ao atendimento da Receita Federal para resolver uma pendência do imposto de renda da minha mãe. Já adiara por mais de um mês esse "martírio", mas era melhor acabar logo com isso.
Tomei coragem, peguei o carro e, incrivelmente, achei uma vaga em frente à porta principal, num dos lugares mais difíceis para se estacionar em Brasília. Entrei, vi muitas pessoas aguardando sentadas e, na triagem, em menos de dois minutos, fui atendido e recebi uma senha. Sentei na sala de espera e percebi que existia uma televisão de plasma de 50 polegadas mostrando as Olimpíadas! 100 metros rasos! A prova mais emocionante do atletismo... Como adoro esportes, sentei numa cadeira mais próxima da TV e fiquei controlando o painel das senhas. Em menos de 5 minutos, chamaram o meu número e entrei. Resolvi facilmente o problema e logo em seguida fui embora. Nem o cara que "vigiava" os carros me abordou para pedir o dinheiro "dele", pois quase nem demorei...
Sabe de uma coisa? Queria ter encontrado uma fila maior, pois a imagem da TV da sala de espera estava ótima e eu poderia ter assistido a várias provas do atletismo...

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

A arte de não fazer nada

Na faculdade, aprendemos uma profissão ou adquirimos conhecimentos que serão utilizados em algum tipo de trabalho. A maioria dos alunos de graduação tem como maior preocupação o ingresso no mercado de trabalho, que se dará mais cedo ou mais tarde. Passada esta etapa da vida, entra-se em um ciclo onde a aquisição dos bens materiais e/ou a independência financeira assumem um papel fundamental. Quem opta por não fazer uma faculdade, já entra direto neste ponto.
Mas o problema é o seguinte: quem aprendeu na faculdade a arte de não fazer nada ou a aproveitar seu tempo livre? Acho que ninguém pensa nisso. Cada vez mais surgem programas de “qualidade de vida” direcionados a pessoas que na verdade nem sabem o que é isso e já estão passando da hora de começar. Até cursos logo antes da aposentadoria existem com o objetivo de ensinar as pessoas a viver sem trabalhar...
A tendência natural é a pessoa trabalhar feito um escravo pensando que depois da aposentadoria vai “aproveitar” a vida. Aposentadoria, a partir de agora, será cada vez mais tardia – foi-se o tempo em que pessoas com quarenta e poucos anos se aposentavam. As regras de aposentadoria nos setores público e privado vêm mudando e vão ter de mudar muito mais, pois a situação dos fundos de previdência em todo o mundo é insustentável. A expectativa de vida é pouco maior do que a idade de aposentadoria. Esse papo todo é para chegar à conclusão de que a vida tem de ser aproveitada a partir de hoje e até o fim e que essa história de ficar esperando a aposentadoria é uma loucura.
A primeira providência é trabalhar em algo do que se gosta. Já que tanto tempo vai ser gasto com o trabalho, que não seja um sofrimento. Mesmo que o ganho seja melhor, acho que vale a pena trocar um trabalho desagradável por outro aprazível.
Resolvido isto, passa-se a administrar o tempo de forma a viabilizar a arte de não fazer nada ou coisas não rentáveis. Dentro dos valores da nossa sociedade ocidental, onde “time is money”, isso não é nada fácil.
Deve haver um meio termo. Meus amigos que não precisam de trabalhar vivem dramas existenciais tão interessantes, com problemas de auto-estima e outros não identificados, que nem lamento não ter este privilégio.
Escrevi isto tudo para dizer que não domino a arte de não fazer nada e coisas não rentáveis e que estou com sérias intenções de começar a aprender. Enquanto é tempo...

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Decisões

Opções são cruéis,
Decisões maltratam,
Mas são necessárias...
Quebrando paradigmas,
Revendo conceitos,
Voltando ao zero.
Destino ingrato,
Depende da gente,
Melhor se viesse
Dentro do pacote
Da Kellogg's...

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Aula de alemão

Fiquei sem estudar alemão por quase um ano. Para não esquecer tudo, resolvi voltar. E ontem foi o primeiro dia...
Deprimente. Os primeiros dez minutos foram algo entre o desespero e a indiferença. Estava me sentindo o próprio HD formatado ou parecia que tinha acordado de um coma... Depois, veio a fase da conformação. Sim, assumi a mediocridade. Quase pedi desculpas por estar ali...
Hoje peguei o livro para tentar dar uma olhadinha. Não durou muito. Incomodou. Sábia a minha vizinha milionária: "Você podia ter arranjado um hobby mais facinho, né?".
Será que é o suficiente para ficar de mau humor? Mas fiquei. Mas claro que não é só por causa disso. O tempo continua se esfarelando e eu perdendo a luta comigo mesmo. Chego a admirar meus amigos hedonistas. Viro fã da minha secretária e seus comentários existenciais simplesmente geniais. Por que complicar tanto?
Resolvi combater com química pesada: comi alguns bombons de chocolate, corri alguns quilômetros e o máximo que consegui foi sentar em frente ao computador para digitar esse desabafo virtual...

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Filosofia de segunda-feira...

Algumas pessoas sofrem a vida inteira. Se a infância e a adolescência carregam um sofrimento intrínseco relacionado ao processo de amadurecimento, na vida adulta, temos a possibilidade de seguir caminhos distintos.
Inicialmente, existe a necessidade de sobrevivência. As dificuldades se concentram na obtenção dos bens materiais, com o trabalho sendo encarado como uma privação necessária. Nesse ponto, muitos se perdem na busca interminável pelo dinheiro, que se torna o objetivo único da existência. Não há ganho progressivo de felicidade, apenas sofisticação do consumo numa espiral interminável.
Há pessoas que em qualquer situação sofrem mesmo e vão ser assim sempre. É como se a coisa fosse genética. Não importa a situação, a visão da vida é a mais negativa possível.
Alguns só conseguem enxergar o lado ruim da vida. Se há flores, formigas e lama, com certeza as flores passarão despercebidas...
Será que é possível, entre a tarde e a noite, subitamente, ouvir um estalo e começar a ver a vida com outros olhos? Talvez só algumas pessoas tenham esta capacidade e, infelizmente, é provável que não seja uma habilidade que possa ser adquirida pelo aprendizado...

domingo, 10 de agosto de 2008

O macaco

Aos 3 anos de idade, viajando com meus pais, num restaurante, apresentava grande agitação, normal para uma criança da minha faixa etária. Como meu pai naquela época já era um glutão e ainda faltava muito para terminar sua refeição, fui advertido por ele:
“- Fique bem quietinho senão vai vir ali de dentro um macaco enorme que irá levá-lo!”
Como um macaco enorme me pareceu uma coisa bem assustadora, permaneci quieto por mais alguns minutos até que um cozinheiro bem gordo, de feições orientais, passou em frente à mesa. Assim que o vi, gritei bem alto:
“- Pai! Aquele ali é o macaco que você falou?"
Nem precisa imaginar a cara do cozinheiro...
E foi assim que um macaco se transformou num grande mico!

sábado, 9 de agosto de 2008

Lágrimas olímpicas

Acabei de ver uma final do judô olímpico. Um austríaco e um coreano disputaram a medalha de ouro. Ambos com excelente retrospecto em campeonatos mundiais. Em pouco tempo de luta, o coreano aplica um golpe perfeito (ippon) e define a luta. A seguir, ajoelha-se e começa a chorar copiosamente. Ao levantar, recebe o abraço do austríaco, sem interromper suas lágrimas. O austríaco transmite sinceridade no abraço, reconhecendo o resultado da luta.
Parece tudo simples, mas uma final olímpica é o momento maior da vida esportiva de qualquer atleta. O choro do coreano deve ter como fundo o filme de toda a sua vida, todo seu esforço e privações. O mais bonito, porém, é o abraço do austríaco, que torna sua medalha de prata mais valiosa ainda. Isso é que é fair play, uma versão atual da máxima que "o importante é competir". Claro que todos querem ganhar, mas o espírito do esporte é um final honroso para todos. Não vi no rosto do lutador que perdeu a luta vergonha, mas orgulho pela sua prata - e uma medalha de prata olímpica é uma grande honra.
É por essas e por outras que o noticiário esportivo, apesar de alguns problemas, é o meu momento preferido nos telejornais!

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

O furto da minha bicicleta

Ontem à noite, voltando da academia, fui chamado pelo síndico do meu edifício, que é meu amigo, para ver uns vídeos do sistema de segurança. Pela sua apreensão, logo percebi que havia problemas. Logo entendi que o bicicletário havia sido arrombado e uma bicicleta furtada.
Nos vídeos que ele cuidadosamente separou, via-se o "mala" rondando as portarias e, finalmente, entrando por uma porta que havia sido deixada aberta. Depois, na garagem, espera a entrada de um carro e sai correndo com a bicicleta pela porta ainda fechando.
Pelas evidências, poderia ser a bicicleta do meu filho. Fui ao local do crime e realmente estava faltando a nossa bicicleta. Recordamos que tinha sido acordado na última reunião que o condomínio não mais pagaria pelas bicicletas furtadas (fato comum). Disse-me o síndico que iria ver se o seguro do edifício poderia pagá-la. Pouco provável. Já estava conformado com o prejuízo.
No elevador, fui pensando na melhor maneira de dar a notícia. Lembrei do dia em que furtaram a minha bicicleta (tinha uns 10 anos), que era minha companheira inseparável, das lágrimas que se foram e das noites em que sonhara que tinha encontrado a bicicleta abandonada...
A seguir, profundamente preocupado, comuniquei o fato ao meu filho, que nem sequer parou de jogar no computador. E a resposta foi esta:
"- Pai, minha bicicleta está na casa do meu avô, presa com uma corrente!"
Pensando melhor, aposto que se tivessem furtado a bicicleta do meu filho, ele teria ficado muito menos chateado do que quando cai a conexão da internet no meio do seu jogo...

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Nem todo mundo é 36!

Há uns tempos, ouvi esta frase: "Nem todo mundo é 36!". Gostei da idéia, pois a sociedade tende a querer enquadrar o comportamento das pessoas em padrões restritos, nos quais todos têm de ser iguais a 36 (36 representa um padrão aleatório). Entretanto, existem os 35, os 37 e outros muito mais diferentes...
A gente até acaba se acostumando a fingir ser 36, pois é mais fácil, mas, quanto mais diferentes, mais sofrimento a suportar. Há muita complicação rondando as coisas simples. Forças lapidando os diferentes, querendo que se tornem 36!
A vida seria mais interessante se algumas posturas pudessem ser aceitas, se os rótulos não tivessem de ser colados na testa das pessoas. E sem falar nos roteiros de comportamento. 
Por que é melhor não pensar muito a respeito?
Por que o cinto tem de combinar com o sapato?
Todas as mulheres devem calçar 36?
O conceito básico que deveria ditar as regras de convivência na sociedade deveria ser o respeito ao próximo. Se o meu comportamento não é 36, qual o problema se não estiver prejudicando os outros?
Isso é que é filosofia rasa, não? 
Viu? Se não for filosofia 36, sempre vai ter alguém para criticar...

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Parrillada

No segundo dia em Buenos Aires, peguei o guia e resolvi procurar uma parrillada argentina tradicional, vontade que sempre tive. Gosto de conhecer lugares pitorescos, tradicionais, freqüentados por pessoas do local. A página do guia tinha o seguinte título: “Buenos Aires como ela é – uma seleção de lugares para comer muito bem e gastar muito pouco”. Duas ótimas idéias!
Escolhi então o restaurante Arturito, aberto desde os anos 40, “o que restava de tradicional na Avenida Corrientes, segundo o guia, “a avenida que nunca dorme”! Perfecto! Fui andando com o meu mapinha (só me separei dele no último dia, quando rasgou em todas as dobras simultaneamente), à noite, deslumbrado com a quantidade de pessoas no meio da rua, com as luzes dos edifícios na Avenida 9 de Julio - aquela bem larga e que tem aquele obelisco engraçado -, e cheguei ao restaurante. Um lugar simpático, mas com uma televisão velha apontada para as mesas, mas com muitos habitantes locais e alguns turistas branquelos.
Um garçom (mozo) muito simpático, já meio veterano, me explicou como era a parrillada, e, entendendo mais ou menos, resolvi encarar. Chegou então aquela chapa quente, cheia de coisas. Como diria meu velho amigo inglês Jack, vamos por partes!
Comecei com a costela (tira de asado), conhecida, bem razoável. Aí começou o problema. Reconheci uns rins (rinõnes) e, meio a contragosto, provei um pedacinho: gosto de fígado, pero mais borrachento. Depois, perguntei ao garçom sobre umas estruturas meio circulares, finas, e ele apontou para a barriga e disse: “- Chinchulines!”. Intestino! Provei um pedaço menor ainda e senti um gosto meio amargo e o negócio era ruim de mastigar.... Depois, umas lingüiças pretas, brilhantes, até bonitas... Chamei o mozo e ele disse que eram morcillas – nem quis mais explicações: adivinhei... (lingüiça de sangue de porco). Parti um pedacinho, saiu uma gosma preta e provei com medo... Amargo, viscoso, detestei! Aí, só me restava uma lingüiça com cara normal e não tive dúvida, garanti o meu jantar com ela. O garçom me perguntou se tinha gostado e respondi que “si, pero muy grande!”, ele fingiu que acreditou e eu pedi la cuenta, paguei em dinheiro para andar mais rápido e saí correndo aliviado...
Que saudade do churrasco do Brasil! Parrillada nunca mais! E ainda mais que a nossa picanha é argentina! A partir daí, não arrisquei. Fiquei só com bife de chorizo (um contra-filé grosso cortado diferente) e bife de lomo (filé mignon). Mas, no fundo, no fundo, só pensava na picanha do Porcão!

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Nova dinâmica nas festas!

No próximo sábado, um casal amigo vai fazer uma festa. As festas lá são muito animadas, com muita cerveja e música. Certamente, alguns vão ter de dirigir. Fico pensando em como vai ser a nova dinâmica da festa...
Acho que vão existir dois ambientes, como os restaurantes fazem com os fumantes...
1) Ambiente para quem não vai beber, também chamado "pipoca sem sal" - lugar mais silencioso, provavelmente a sala, com sofás, música suave (jazz, blues), conversas amenas, assuntos de trabalho e casa, comidas logo disponíveis, talvez uns bombons expostos, pois certamente as pessoas iriam encher a barriga e ir embora mais cedo...
2) Ambiente para quem pode beber, também chamado "camarote da Brahma" - a varanda provavelmente, onde seriam retirados objetos com risco de serem danificados (enfeites, vasos de plantas pequenos), som mais alto e animado (axé, rock), iluminação transada, muito gelo, cerveja, conversas empolgantes, filosóficas ou não, sem necessidade de muita comida, com umas redes ou colchonetes para o final da festa (final?!).
Bem, como acho que vou ter de ficar no primeiro ambiente, é justo que exista alguma compensação, como, por exemplo, prioridade na hora da torta... Ah! Um biombo preto para não deixar muito à mostra o outro ambiente ou para que o pessoal da pipoca não queira migrar também seria recomendável!

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Era uma vez um guarda-chuva...

Entrei na loja decidido. Tinha visto o mesmo casaco no Brasil por um preço muito maior! Caí no consumo! Na hora de pagar, o vendedor me explicou que, se consumisse só mais um item, ganharia um presente! Pedi para ver o presente (que era surpresa) e ele foi lá nos fundos da loja e me mostrou um guarda-chuva daqueles grandes, com um cabo de madeira escrito Timberland, lindo – foi amor à primeira vista!
Sou adepto do guarda-chuva portátil, de camelô, descartável, que dura uma ou duas ventanias... Agora iria ter um guarda-chuva de verdade! Fiquei uns quinze minutos procurando alguma coisa (não podia ser meia!) e escolhi uma carteira de couro. Feliz da vida, carreguei minhas compras pelo metrô de Buenos Aires, lotado por sinal, e andei até o hotel.
A primeira constatação já foi um receio que tivera: não cabia na mala e nem se conseguisse arrancar o cabo, não ia dar mesmo! Poderia levar na mão! Por que não? Há chuva por todos os lugares! Talvez desse algum trabalho para explicar para o pessoal da segurança do aeroporto que não era uma arma e a aeromoça iria fazer uma cara meio esquisita, mas o stress compensava diante da beleza do objeto!
Passei alguns dias aproveitando as férias e, todas as noites, olhava para o guarda-chuva e me preocupava um pouco...
Pouco antes da partida, arrumei a mala com toda a técnica, sentei em cima dela com aquele balanço e dei uma olhada profunda para o guarda-chuva... Acho que relaxei por uns 10 minutos, levantei, desci e paguei a conta do hotel. Peguei um táxi e fui para o aeroporto. No meio do caminho...
Adivinhou, não?
Deixei o guarda-chuva lá no quarto do hotel...
Nem fiquei triste. Ia me dar muito trabalho e como é bom guarda-chuva pequeno, descartável, daqueles que a gente não sofre quando perde... Como uma caneta Bic!
Mas, talvez isso signifique que preciso sentir mais a chuva, talvez até reaprender a pisar descalço no chão molhado...

domingo, 3 de agosto de 2008

E Gabriela foi pra Londres...

Sentou ao meu lado no vôo, de Florianópolis para São Paulo, uma garota de óculos, loirinha, que logo me chamou a atenção porque não parava de suspirar... Emendava um suspiro atrás do outro, cada um mais profundo. Depois de vê-la folhear um jornal argentino de cabeça para baixo, parecendo não olhar as palavras, no escuro, perguntei:
"-Posso acender a sua luz de leitura?"
Ela agradeceu e continuou suspirando...
Pouco depois, puxa conversa:
"-Você é de São Paulo?"
Pronto. Agora iria descobrir porque a menina suspirava tanto... Disse-me que estava indo para Londres porque não gostava do curso que estava fazendo na faculdade e que, por ser neta de italianos, conseguira passaporte da Comunidade Européia. Iria morar com uma amiga que trabalhava como camareira em um hotel e que seu dinheiro não iria durar muito tempo, assim queria muito trabalhar e na segunda-feira mesmo já iria batalhar por uma ocupação! Já morara um ano nos Estados Unidos trabalhando no Subway e no Mac Donald's, trocara muito alface por outras coisas, mas depois aprendera bem a língua... Mas por que Gabriela tanto suspirava? 
"-Porque estou com medo..."
"-Gabriela, o medo faz parte, tudo novo dá esse frio na barriga. Não se preocupe, no começo você sofre um pouquinho, mas depois vai se acostumando. Você já tem experiência! Com o passaporte da Comunidade Européia você pode trabalhar!"
"-Mas eu chorei muito na despedida dos meus pais..."
"-Chorar é bom! E você tem que chorar sempre que ficar triste... E Londres é uma cidade muito legal! Não se preocupe. É fácil andar lá! O metrô é bom! Divirta-se também, viu?!"
"-Puxa, obrigada! Estou mais tranqüila..."
E lá foi Gabriela, aos 21 anos, morar em Londres, em busca de si mesma... Ainda sem saber bem como é bom chorar e que o medo sempre vai nos acompanhar...