Meu avô era realmente uma pessoa diferente. Naquela época, não existia van nem SUV. E meu avô tinha uma Belina. Aos sábados, eu me arrumava às 9h e ia para a janela esperar o meu avô me pegar para ir a sua "mansão", que era, basicamente, um terreno com muitas árvores frutíferas e um caramanchão.
Ele sempre chegava perto do meio-dia, com a Belina arrastando a traseira de tão pesada (muitas latas, garrafas, comida e curiosidades), e, depois, íamos buscar meus outros dois primos - os demais, ou nem eram nascidos ou eram bebês. No caminho, que parecia uma viagem (eram só uns 15 km), comíamos biscoitos Maizena e íamos sentindo o vento com as janelas abertas. Meu avô tinha um estilo único de dirigir - os adultos da família comentavam que ele era "barbeiro" -, mas nunca teve uma batida com a gente. Acho que ele usava pouco as marchas - demorava muito tempo para sair da 1ª -, mas, naquela época, ainda não era popular o câmbio automático.
Nem precisa dizer que o dia era o máximo, com muita comida e brincadeira, areia, mangueira de água liberada e nada de tecnologia. Chegava em casa à noite, exausto, e nem me lembrava do caminho, pois, não sei como, voltávamos dormindo no banco de trás da Belina.
Bons tempos. Se fosse hoje, acho que meu avô teria uma van automática. Não iríamos poder comer no carro e teríamos que ir amarrados com o cinto de segurança, com a janela fechada para não atrapalhar o ar-condicionado. O terreno da "mansão" seria um lote pequeno num condomínio, sem areia nem mangueira para brincar e iríamos preferir ficar vendo televisão, navegando na internet ou jogando videogame.