sábado, 23 de agosto de 2008

Brincadeiras de criança

Nos sábados à tarde, coordeno um grupo de alunos de vários cursos de graduação em um projeto de extensão universitária em uma comunidade carente da periferia de Brasília. Hoje, resolvi observar as brincadeiras das crianças.
Fiquei sentado por alguns minutos num banco de madeira numa rua cheia de lixo, onde as crianças brincavam tranqüilamente. Uma menina gordinha de 7 anos se aproximou segurando um teclado estragado que acabara de recolher de um monte de lixo. Perguntei se ela sabia ler e ela respondeu que não muito. Resolvi jogar um pouco com ela. Falava uma letra e pedia que dissesse uma palavra que começasse com ela e depois me mostrasse no teclado. Brincamos animadamente por uns 10 minutos.
Logo em seguida, passei por duas meninas tentando jogar vôlei com uma bola de futebol murcha, sendo a rede um pedaço de madeira. Pedi licença e ensinei a técnica do saque, do toque e da manchete, e ainda joguei um pouquinho.
Ainda na rua, vi três garotinhos de no máximo 8 anos brincando em um monte de madeiras velhas. Fingiam que era uma moto e disputavam a direção. Estava boa a brincadeira - só pedi que jogassem fora uma madeira cheia de pregos. Eles não reclamaram e aproveitaram para recolher uma caixa de som velha do monte de lixo que colocaram em cima da "moto".
Mais tarde, vi dois meninos bem pequenos jogando pingue-pongue sobre uma tábua. As raquetes eram pedaços de madeira e a bola era simplesmente a bolinha de um desodorante roll-on. Não resisti e pedi para jogar. Desisti na segunda tentativa, pois a bola não quicava direito e a mesa amortecia demais. Mas eles continuaram o jogo.
Assim, enquanto orientava os alunos, aproveitei a minha tarde para entender na prática como as crianças carentes se divertem de forma tão ingênua e criativa, enquanto muitas crianças ricas de hoje esfolam seus dedos nos teclados e mouses dos computadores...

8 comentários:

Sunflower disse...

Minha mãe queria mandar fazer um armário, e eu sou a personl stylish dela. Vi um armário em uma loja de shopping cuja porta dava pra rua. Puxei a minha mãe lá pra dentro pra ela dar uma olhada. Perto do armário, por meio dos colchões box, tinha um menininho contando moedas que havia apurado vendendo chicletes. Ele viu a gente e começou a se arrastar pra se esconder mais adiante, porque, é claro, a gente estava ali, é claro o vendedor veria, é claro que o menino seria expulso do repouso dele.

Na minha cabeça passaram os seguintes pensamentos:

derramar todo o dinheiro que tinha na bolsa, que não era muito, em indenização pelo constrangimento que o fiz passar - mas pensei que isso apenas o constrageria ainda mais;

pensei então em comprar todos os chicletes para que ele fosse descansar em casa - mas isso era dar surporte ao trabalho infantil;

pensei em trazê-lo pra casa e cuidar dele, mas isso não era tão fácil e viável;

apenas saí puxando a minha mãe rápido antes que o vendedor viesse e o expulsasse.

esse negócio de gente dói.

Rodrigo Carreiro disse...

Cara, você é importante.

Mwho disse...

Rodrigo,
Eu sou uma formiga.
Ou melhor, uma barata!

Mwho disse...

Sun,
A nossa base é uma ONG que recebe crianças no período oposto ao da escola, fornecendo alimentação, reforço escolar e aulas de música, informática e esportes gratuitamente (eles têm pouquíssimos recursos e são patrocinados por entidades diversas). A universidade entra voluntariamente complementando o trabalho deles. O trabalho infantil é o inimigo número 1 - aí entra uma assistente social para tentar ajudar as famílias a conseguirem aquelas bolsas assistencialistas do governo que são ruins, mas infelizmente necessárias para que as crianças tenham alguma chance com a escola...
Não é propaganda da ONG não, mas o trabalho deles é emocionante...
Eles até ficam constrangidos em serem uma ONG, já que há tanta picaretagem pelo Brasil afora...

Samantha Abreu disse...

sinto-me envergonhada.
juro. sinto vergonha de mim quando penso nessas crianças e idosos. E em muitos outros, pra falar a verdade.
Nas ruas não há só vagabundos, pelo contrário, o que vejo são muitos negligenciados.
Isso dói mesmo, Sun.

Beijos!

Thais disse...

Que bacana!
E pode ter certeza de que eles devem ter achado o máximo você brincar com eles!

Legal essa ONG, vou querer saber mais dela..

Mwho disse...

Samantha,
É legal saber que muitos se incomodam com esses problemas persistentes da nossa sociedade.
A incompetência do setor público é impressionante...

Mwho disse...

Thais,
Eu, pelo menos, me diverti bastante!
Eles me acharam interessante e prestaram atenção a tudo que eu falei...