Acho que tinha uns 11 anos. Foi mais ou menos na época em que meus pais se separaram. Levava uma vida muito agradável. Estudava pela manhã e, à tarde, depois de fazer os deveres de casa, descia (morava em um edifício) para brincar com os meus amigos. Jogava futebol, botão, pique-bandeira, pique-esconde e, nem pensava em namorar. Tudo muito tranqüilo.
Mas, um certo dia, tive um desentendimento com um amigo por algum motivo pouco importante e fui avisado de que, se voltasse no dia seguinte, iria "levar uma porrada". No meio raciocínio infantil, ele era um pouco maior do que eu, dois anos mais velho, faixa marrom de judô e, assim, se voltasse no dia seguinte, seguramente iria mesmo "levar uma porrada". Resolvi a situação: não voltei no dia seguinte, nem nos seguintes e isso durou cerca de um ano. Fui privado do que mais gostava de fazer: estar com os meus amigos. Fazia tudo sozinho. Ficava em casa só com os meus pensamentos. Mas não confessei a ninguém a minha covardia. Sofri muito. Quantas vezes tive vontade de me juntar aos meus amigos para brincar. Ouvia os gritos, via, de longe, escondido, as brincadeiras.
Quase um ano depois, juntei toda a coragem e resolvi aparecer. Não podia suportar mais aquilo tudo. Era melhor "levar a porrada"...
Para minha surpresa, o meu desafeto foi um dos primeiros que falou comigo:
"- Cara, você andou sumido!".
Acho que ele nem se lembrava da ameaça.
São essas histórias da infância que marcam a gente para sempre. Mudamos com certeza e, mesmo que não nos lembremos, intuitivamente, fica um pouquinho dessa vivência em cada decisão tomada na vida.
Se pudesse voltar no tempo, acho que teria sido mais feliz, teria brincado muito mais, teria levado aquela "porrada" no dia seguinte mesmo e, depois, sorrindo, teria dito ao meu algoz:
"- Obrigado pelo ano que não vou perder!".
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