segunda-feira, 30 de junho de 2008

Sobrou para o Freud!

Há muitos anos, passando férias com meus primos em Santa Catarina, resolvemos ganhar um dinheirinho extra vendendo sanduíches na praia. Eu e minha prima-sócia, da minha idade, ambos com 18 anos, no auge da forma física, criamos coragem. O sanduíche teria de ser "natural": peito de frango cozido, pão integral e, naturalmente, maionese, catchup e mostarda (na origem, são naturais, não?). Todos embalados com papel alumínio no maior capricho! Acordamos bem cedo para produzi-los e fomos à praia!
No primeiro dia, vendemos todos os sanduíches, acho que uns 25, já que naquela época e naquela praia, não era comum sanduíche "natural" nem vendedores como nós...
No segundo dia, idem. Estoque esgotado!
No terceiro e no quarto dias, aumentamos a produção para 50 sanduíches. Todos vendidos! O sanduíche era realmente bom!
Mas, o sucesso empresarial sucumbiu devido à vida noturna, pois tínhamos de gastar o dinheiro e acordar cedo estava ficando difícil!
Isso foi só para contar uma história que ocorreu no último dia...
Estávamos já no final das vendas, só pensando em gastar o dinheiro arrecadado, e um grupo de gaúchos (com chimarrão, barraca, cadeiras, isopor e uísque) nos chamou. Como estava mais próximo, logo cheguei com a cesta e, ao apresentar os sanduíches, recebi a seguinte frase do mais falante dos senhores:
"- Quero a garota e não você!"
Minha resposta foi imediata:
"- Segundo Freud, você me quer do mesmo jeito, mas seu superego o leva a achar que tem preferência por ela, não?"
O cara quase engasgou com o chimarrão e a única resposta que conseguiu dar foi:
"- Senta aqui nesta cadeira, meu filho, e toma um uísque com a gente..."
Os amigos do sujeito quase morreram de rir da cara dele e, quando minha prima se aproximou, só foi recolhendo o dinheiro dos últimos sanduíches!
Coitado do Freud. Inventei aquela e, como o cara não sabia nada de nada, ganhei no grito!

domingo, 29 de junho de 2008

Chorando Novamente

Outro dia, falei sobre chorar com prazer, em momentos de emoção positiva. Hoje, pude praticar intensamente, assistindo ao "Esporte Espetacular". Ridículo? Se você acha, então pare de ler agora. Foi na reportagem sobre um programa social do Ronaldinho Gaúcho em Porto Alegre. Um garotinho de 7 anos deu uma entrevista, espontânea, como só uma criança conseguiria, e foi respondendo às perguntas do repórter. É um programa que atende a centenas de crianças de famílias de baixa renda, bancado pelo jogador, com oficinas de artes, informática, reforço escolar e esportes, com atendimento médico e odontológico. Já estava dando uma choradinha, mas aí o garoto respondeu: 
"-Isso já mudou a minha vida!".
Foi quando chorei com vontade, sem conseguir enxugar as lágrimas com os dedos, como vinha disfarçadamente fazendo... 
Pensei naquelas centenas de crianças que graças ao dinheiro do atleta famoso (não me importa se foi ou não para a noite em más companhias, se bebeu o não bebeu, se está fora de forma ou não) estão tendo a oportunidade de sonhar com um futuro melhor, com uma chance na sociedade.
Acho que uma das coisas mais importantes na vida é ter um sonho. 
Golaço, Ronaldinho!
Foi uma chorada gostosa!

sábado, 28 de junho de 2008

História da Infância

Acho que tinha uns 11 anos. Foi mais ou menos na época em que meus pais se separaram. Levava uma vida muito agradável. Estudava pela manhã e, à tarde, depois de fazer os deveres de casa, descia (morava em um edifício) para brincar com os meus amigos. Jogava futebol, botão, pique-bandeira, pique-esconde e, nem pensava em namorar. Tudo muito tranqüilo.
Mas, um certo dia, tive um desentendimento com um amigo por algum motivo pouco importante e fui avisado de que, se voltasse no dia seguinte, iria "levar uma porrada". No meio raciocínio infantil, ele era um pouco maior do que eu, dois anos mais velho, faixa marrom de judô e, assim, se voltasse no dia seguinte, seguramente iria mesmo "levar uma porrada". Resolvi a situação: não voltei no dia seguinte, nem nos seguintes e isso durou cerca de um ano. Fui privado do que mais gostava de fazer: estar com os meus amigos. Fazia tudo sozinho. Ficava em casa só com os meus pensamentos. Mas não confessei a ninguém a minha covardia. Sofri muito. Quantas vezes tive vontade de me juntar aos meus amigos para brincar. Ouvia os gritos, via, de longe, escondido, as brincadeiras.
Quase um ano depois, juntei toda a coragem e resolvi aparecer. Não podia suportar mais aquilo tudo. Era melhor "levar a porrada"...
Para minha surpresa, o meu desafeto foi um dos primeiros que falou comigo:
"- Cara, você andou sumido!".
Acho que ele nem se lembrava da ameaça.
São essas histórias da infância que marcam a gente para sempre. Mudamos com certeza e, mesmo que não nos lembremos, intuitivamente, fica um pouquinho dessa vivência em cada decisão tomada na vida.
Se pudesse voltar no tempo, acho que teria sido mais feliz, teria brincado muito mais, teria levado aquela "porrada" no dia seguinte mesmo e, depois, sorrindo, teria dito ao meu algoz:
"- Obrigado pelo ano que não vou perder!".

Realidade Paralela

Há alguns anos, resolvi criar uma realidade paralela. Era como um jogo. Sempre que queria sair dos problemas por um tempo, mudava meu pensamento para a realidade paralela. Lá tudo era possível, permitido e aceito.
Às vezes, passava o dia inteiro alternando as realidades. Era bem divertido. Nem sei quanto tempo fiquei com essa migração. Para mudar, bastava parar por uns segundos e pronto! Estava em outro mundo. Acho que as coisas ficavam mais lentas, mais coloridas, mais silenciosas. Tinha até um mecanismo de segurança, que não era muito legal, que desligava a realidade paralela quando algum chato insistia muito em resolver alguma coisa complicada me envolvendo!
O tempo passou e não sei bem quando perdi a capacidade de mudar de realidade... Ficou para trás, perdida no tempo. Não sei se a pressão de coisas para fazer sufocou minha querida realidade paralela ou se a incorporei na realidade normal, mas confesso que, às vezes, sinto saudades...
Talvez os momentos de emoção espontânea sejam a realidade paralela. Talvez a mudança agora se faça de forma automática. Mas, realmente, gostava quando o sistema era manual!

quinta-feira, 26 de junho de 2008

E eu nem imaginava!

Estava no 3º ano do 2º grau. Ia fazer o vestibular no final do ano. Estudava muito. Sonhava em um dia ainda ser jogador de futebol, depois de terminar a faculdade. Claro que ia ter de melhorar bastante... Foi aí que fiquei apaixonado. Colega de turma, morena, cabelos negros e longos, não via defeitos. O peito até doía quando pensava nela - ficava até sem ar. Jamais tive coragem de abrir o jogo. Preferi passar tardes e tardes sofrendo - cheguei até a ser consolado por uma amiga... Mas não adiantou. Só sei que sofri o ano todo.
Passou-se o tempo. Passei no vestibular. Continuei a vida e, uns três anos depois, encontrei o meu antigo amor platônico num calçadão, numa cidade de praia. Parei para conversar com ela e, com um pouco de dificuldade, confessei o amor do passado!

- Sabia que eu era perdidamente apaixonado por você durante todo o 3º ano?
- O quê? Não brinca! Eu também era...

Acho que o diálogo durou mais alguns segundos. O tempo tinha passado e eu não era mais apaixonado por ela. Mas, o mais importante, foi que eu vi o quanto fui idiota durante um ano inteiro e isso me irritou demais...
Hoje, muitos anos depois, nem penso mais em ser jogador de futebol, pois o Romário, que tem a minha idade, já não consegue jogar. Mas não tem problema. Pelo menos já consigo domar a minha timidez! E me sinto menos idiota...

Chorar

Na hora mais inusitada, no meio do trabalho, você pára e, subitamente, sente uma emoção. Emoção absoluta mesmo, vontade de chorar, num sentimento muito legal. Nada aconteceu. Nem estou vendo um filme - não posso chorar: estou trabalhando! Que pena... Disfarço e sigo em frente.
Choraria com o maior gosto. Com direito a soluços e tudo o mais... Que drama, hein?!
Mas é assim que eu acho bom chorar. Chorar de tristeza, de raiva, não me diz nada. Bom mesmo é chorar vendo filme de cachorrinho na "Sessão da tarde" ou história do atleta de sucesso que vivia na miséria no "Esporte espetacular". Ou chorar nove vezes vendo o "Titanic" (não sei se conseguiria fazê-lo de novo), ou treze vezes no "Entre dois amores" ("Out of Africa") - meu recorde pessoal!
Não consigo chorar na tristeza. Para mim, chorar é uma coisa boa. É o meu termômetro da emoção. Chorar no cinema é uma delícia. Chorar vendo televisão é razoável. Chorar escondido, lendo um livro, também é legal.
Recomendo!

terça-feira, 24 de junho de 2008

O Ótimo é que é Inimigo do Bom!

Sempre gostei de uma frase que aprendi com um amigo e professor há alguns anos: "O bom é inimigo do ótimo."
Na minha interpretação e na do meu professor, isso significava que, quando algo estava bom, não se deveria insistir em busca do ótimo, pois tudo poderia piorar... Anos depois, vi uma interpretação contrária, onde o bom era inimigo do ótimo porque fazia com que as pessoas se acomodassem e não buscassem o ótimo...
Como não concordei com a nova versão, travei uma discussão com uma pessoa que, infelizmente, sabe mais português do que eu (sentiu a pontinha de inveja, não?). E, pior, tive de dar razão a ela...
Na sua opinião, a frase teria de ser reescrita assim: "O ótimo é inimigo do bom.". Na sua justificativa, o bom é o referencial e o ótimo, o elemento mau da história (maniqueísmo mesmo!).
Tive de concordar.
Assim, depois de anos dizendo e pensando que "o bom é inimigo do ótimo", terei de mudar para "o ótimo é inimigo do bom"...
Obs.: Depois de tudo o que escrevi, meu filho me diz: "-Claro, pai! O Curinga é que é inimigo do Batman e não o contrário!".
Moral da história:
Às vezes, o raciocínio do adulto faz muitas curvas...

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Meu Vizinho de Cima

Há algum tempo, minha esposa começou a reclamar do barulho do vizinho de cima. Como saio cedo de casa, fui perceber, no fim de semana, algo como um móvel sendo arrastado. Até aí, tudo bem, mas os horários não eram muito confortáveis: sábados e domingos à tarde e bem cedo pela manhã...
Minha esposa começou a me dizer que eu deveria falar isso e aquilo com o vizinho, porque assim não podia continuar e outras coisas. Tá. Mas detesto que me obriguem a fazer alguma coisa de um jeito com o qual não concordo. Depois de muitas caras feias, como se eu fosse o culpado oculto pelos móveis arrastados no andar de cima, resolvi falar primeiro com o meu vizinho de baixo. Claro. Se vou reclamar com o de cima, por que não perguntar ao vizinho de baixo se eu também o incomodo? Meu vizinho de baixo disse que nós não o incomodávamos e sugeriu que eu presenteasse o vizinho de cima com um kit de feltros para cadeiras e móveis arrastáveis. Boa a idéia, né? Mas pedi autorização a ele para dizer que ele tinha reclamado do meu barulho e, por conseguinte, construindo uma corrente pelo silêncio, iria dizer ao meu vizinho de cima que ele era o próximo elo e que fosse depois reclamar também com a vizinha de cima dele.
Passou-se o tempo e nada de encontrar meu vizinho de cima no elevador. Até num jantar especial com um casal de amigos especiais o assunto veio à tona. Não tinha mais jeito. Eu ia ter de falar com o cara. E o cara era meu chapa de elevador - sempre conversávamos sobre problemas do condomínio e outras bobagens...
Saindo apressado para o trabalho, vi o meu vizinho falando ao celular dentro do carro! Não podia perder a oportunidade. Subi novamente para o meu andar e, depois de uns segundos, desci pelo elevador e...
"-Fulano, sabe que o nosso bloco tem uma laje muito fininha, que parece um tambor, não? O meu vizinho de baixo até reclamou que faço barulhos que nem sabia que fazia. Também, a minha faxineira é muito desligada... Já pedi também para a minha filha não andar de salto alto..."
E ele, mais do que rapidamente, faz a pergunta fatídica:
"-Eu faço barulho também?"
E a resposta diplomática:
"-Só me incomoda um barulho de algo sendo arrastado, talvez uma cadeira, bem cedo e bem tarde. Pode até não ser do seu apartamento, mas, como é meu vizinho de cima, tinha que te dar um toque..."
Aí vem chegando a vizinha de cima dele e ele, rapidamente, diz:
"-Ela é que faz barulho, precisa ver!"
E vem chegando uma vizinha de dois andares abaixo e também entra na roda. Formou-se então a corrente do barulho! Missão cumprida! Digo que estou atrasado e me dispeço.
Minutos depois, minha esposa me liga e me pergunta se falei alguma coisa com o vizinho, pois ele está discutindo com a vizinha de cima dele no elevador, dizendo que ela faz muito barulho...
Conclusão: Por mais que o seu vizinho de cima lhe encha o saco, a vizinha de cima dele pode encher o dele muito mais!

quinta-feira, 12 de junho de 2008

O Kit de Costura

Outro dia, constatei que a barra da minha calça social estava descosturada. Calça social usada para trabalhar a semana inteira e ainda era quarta-feira... Resolvi fazer o conserto sozinho. O primeiro problema constatado foi que não tinha linha cinza, só branca e preta (a calça era cinza). Ótimo, pois moro perto de um armarinho. Fui andando e, ao chegar lá, fui convencido por uma senhora com uma aparência bem confiável (deve ter sido uma emérita costureira) a comprar um kit com linhas de várias cores, agulhas, fita métrica e uma linda tesourinha. Saí feliz, auto-suficiente, pois agora tinha um kit de costura completo!
Para minha decepção, as agulhas tinham um buraquinho mínimo, dificilmente iria conseguir introduzir uma linha por ali. Achei a linha meio esquisita, mas, na hora de cortá-la, a tesoura além de não cortar a linha, ficou toda torta só com o fato de segurá-la. Fiquei decepcionado.
Resolvi voltar ao armarinho e reclamar. A primeira atendente ouviu minhas reclamações. Tentou enfiar a linha na agulha e, depois de umas cinco tentativas, conseguiu. Olhou para mim com um ar de vitória. Mas, não me dei por derrotado. Pedi a ela que cortasse a linha com a tesoura!
Quase morri de rir. Aí ela me passou para uma mulher de seus trinta anos, meio feia, meio gordinha, com uns óculos inteligentes. Ela então pegou a tesoura e, ao não cortar a linha, me disse: "Também, pelo preço que pagou esperava coisa melhor?".
Hum... Aí a coisa complicou. Disse a ela que queria só trocar por outra coisa ou mesmo por 8 carretéis de linha cinza. Ela me disse então que não poderia trocar porque eu já tinha aberto a mercadoria. Perguntei a ela se pela legislação do consumidor era isso mesmo ou a responsabilidade do vendedor ia além disso... A resposta dela foi um convite: "Saiba que sou advogada e que eu conheço muito bem a lei!"
Aí não resisti. Disse que deveria ser uma ótima advogada, pois trabalhava como gerente de um armarinho... Foi pura vingança, confesso, mas ela mereceu! Concordam?
Deixei o kit de costura no balcão e disse que para mim não teria valor algum e que ela fizesse melhor uso.
A resposta da advogada gordinha meio feia de óculos inteligentes foi! "Pois vou vender de novo e ganhar dinheiro!".
Já estava de costas, saindo da loja, quando ouvi a derradeira mensagem da mocinha. Resolvi completar a baixaria. Voltei, peguei o kit de costura e joguei tudo no chão e disse: "Então vai ter de catar tudo primeiro!".
Aí dei as costas de novo e decidi: a partir daquele dia não faço mais as barras das minhas calças!
Aviso ao leitor perdido neste blog desacreditado: nem sempre ajo assim. As pessoas me acham até calminho... Foi um dia de baixaria!

quarta-feira, 4 de junho de 2008

A Angústia do Tempo e a Fome

Não consigo ter tempo livre. Tenho a capacidade, ou o defeito, de preencher todas as horas do dia com alguma atividade. Escrever estas linhas foi extremamente difícil, pois existem muitas coisas por fazer. As obrigações são muitas. Deveria haver um limite. Eu sei. Mas cada vez é mais difícil aceitar. Quero poder aprender a não fazer nada. Mas como? Trabalho, obrigações, livros que ainda não li, programas a que não assisti, pessoas com quem quero conviver...
Claro que gera angústia. Mas tudo em volta é assim. Não há como fugir. A vida ficou complicada. E, sabe de uma coisa? É mais fácil seguir a maré do que ficar lutando contra! Vou chutar a angústia do tempo! Não vou pensar mais nisso. E, principalmente, porque estou morrendo de fome e tenho de arranjar alguma coisa para comer com urgência!

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Carência Digital

Escrever em um blog é uma atividade interessante. Você monta o blog, escreve e, depois, passa um tempão na solidão. É como se fosse um pensamento escrito, um arquivo guardado no seu computador. Silêncio total. Você pode até voltar e apagar tudo...
De repente, aparece um anônimo e faz um comentário sobre o que você escreveu. É como se você fosse encontrado, tendo estado perdido no fundo do seu HD! Acho que é o fim da solidão digital.
E o comentário não foi hostil... Foi muito bem escrito... Entendeu exatamente o que eu quis dizer...
Dá até vontade de escrever novamente...
Mas, antes, tinha de fazer uma homenagem a quem fez o primeiro comentário no meu blog e me tirou da solidão digital...
Valeu!